15/05/2018
Como Reduzir o risco da estrutura de capital contábil no valor da empresa?
Escrito por:
FERCIEN ® Ferrari
Há muito se vem tratando as várias questões que afetam o Custo de Capital de um negócio e sua influência no Valor da Empresa. Neste breve relato passaremos por algumas análises as quais entendemos como hipóteses aceitáveis para mitigar a influência do problema aqui proposto de “Como reduzir o risco da Estrutura de Capital Contábil no Valor da Empresa?”. O processo de estudo irá apresentar o resultado através de uma análise comparativa, respeitando algumas hipóteses, que são elas: Estrutura de Capital Contábil X Estrutura de Capital a Valor Justo, bem como, teste de erro para segunda análise; Estrutura de Capital a Valor Justo X Estrutura de Capital de Mercado.
Para desenvolvermos o tema, utilizaremos a modelagem de custo de capital através do CAPM (Ke) – Capital Asset Pricing Model e WACC – Weighted Average Cost Capital, modelagens usualmente presentes para análise de taxa de desconto para empresas e negócios. O primeiro passo é a estrutura destas duas modelagens, como segue todas as taxas anuais:
Ke = [1 + (Rf + βl x PM + S + T )] / (1 + IEUA) x (1 + IBRL) - 1
- Rf – Taxa livre de risco: 2,08%;
- β – Beta do Setor: 1,42;
- PM – Prêmio de Mercado: 4,24%;
- S – Risco País: 3,21%;
- T – Prêmio de Tamanho: 2,00%
- IEUA – Inflação americana: 2,11%;
- IBRL – Inflação brasileira: 2,9473%;
- I – Impostos: 34%.
- D – Taxa de juros contratada: 11,83%
Após apresentarmos as variáveis, passaremos a primeira análise do custo de capital e consequente valor da empresa através da estrutura de capital contábil, proposta como segue:
- E – Equity: $ -30;
- D – Débit: $ 110;
- Total: $ 80;
- D/E: -366,6667%
Por conseguinte, se propõe aqui aceitarmos um fluxo de caixa livre com variação nominal de 2,5% a.a., seguindo de igual forma na perpetuidade. Além disso, trabalharemos considerando a metodologia de middle period – meio período. Logo o valor do negócio será dado pela seguinte equação:
Enterprise Value: (FC¹ + FC² + … + FCn + P) / WACC
Resolvendo o CAPM:
Ke = [1 + (2,08% + (1,42(1+(-366,6667%) (1-34%))) 4,24% + 3,21% + 2%)] / (1 + 2,11%) x (1 + 2,9473%) – 1: -0,45%
Calculando o KD:
Kd = d * (1-i), ou seja, Kd = 11,83% x (1-34%) = 7,8%
Por fim, o Wacc calculado fica em:
WACC: Ke x E + Kd x D, ou seja, -0,45% x -38% + 7,8% x 138% = 10,9%.
Considerando a estrutura de capital contábil com Debit/Equity de -366,67% o custo de capital calculado é de 10,9%. A título de hipótese, sugerimos um fluxo crescendo nominalmente 2,5% a.a., sendo que o primeiro ano = $ 100, descontando-o pelo Wacc = 10,9%, considerando a análise de meio período, teremos o seguinte resultado:
Tabela 1 – Valor Justo da Empresa pela Estrutura de Capital Contábil
FC1 | FC2 | FC3 | FC4 | FC5 | Perpetuidade | ||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Período | 0,5 | 1,5 | 2,5 | 3,5 | 4,5 | 4,5 | Enterprise Value |
FC Livre | 100 | 103 | 105 | 108 | 110 | 905 | |
VP | 95 | 88 | 81 | 75 | 69 | 568 | 976 Contábil |
Através da estrutura de capital contábil chegamos ao valor do negócio de $ 976. A sugestão ao problema proposto é que, a partir deste dado, reconhecemos este valor como sendo o valor total da estrutura de capital e, por conseguinte, elaborarmos uma nova composição Debit/Equity, a qual chamamos de estrutura de capital a valor justo, que definirá o custo de capital para apurar assim, o valor justo da empresa, como segue:
Tabela 2 – Estrutura de Capital a Valor Justo
Estrutura de Capital | Contábil | Valor Justo |
---|---|---|
Terceiros | 110 138% | 110 11% |
Próprio | -30 -38% | 866 89% |
Total | 80 100% | 976 100% |
Debity/ Equity | -366% | 12,70% |
Seguindo o raciocínio, considerando o valor do Enterprise Value, através da estrutura de capital contábil, como sendo 100% da estrutura de capital a valor justo e permanecendo com o capital de terceiros inalterado, temos o capital próprio, que antes era negativo em 38%, agora positivo em 89%, gerando uma relação Debit/Equity de 12,7%. Assim sendo, substituindo os valores nas equações do Wacc e CAPM, chegamos a um custo de capital de 14,0% e o valor do negócio como segue:
Tabela 3 – Valor Justo da Empresa pela Estrutura de Capital a Valor Justo
FC1 | FC2 | FC3 | FC4 | FC5 | Perpetuidade | ||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Período | 0,5 | 1,5 | 2,5 | 3,5 | 4,5 | 4,5 | Enterprise Value |
FC Livre | 100 | 103 | 105 | 108 | 110 | 905 | |
VP | 94 | 84 | 76 | 68 | 61 | 503 |
886 Valor Justo |
Se não realizássemos este ajuste, estaríamos passando um sobre preço para o negócio na casa de 10%. A hipótese é corroborada na próxima análise, onde caso tenhamos uma estrutura de capital, muito próxima do seu valor justo, os efeitos seriam praticamente nulos. Os cálculos foram refeitos, considerando a estrutura de capital de $ 886, apurada no fluxo anterior e realizamos a análise como segue:
Tabela 4 – Corroboração da Estrutura de Capital a Valor Justo
Estrutura de Capital | Valor Justo | Corroboração |
---|---|---|
Terceiros | 110 11% | 110 12% |
Próprio | 866 89% | 776 88% |
Total | 976 100% | 886 100% |
Debit/ Equity | 12,7% | 14% |
Neste exemplo, o custo de capital que antes era 14,0%, foi para 13,9% e gerou o seguinte valor para o negócio:
Tabela 5 – Corroboração do Valor Justo da Empresa pela Estrutura de Capital a Valor Justo
FC1 | FC2 | FC3 | FC4 | FC5 | Perpetuidade | ||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Período | 0,5 | 1,5 | 2,5 | 3,5 | 4,5 | 4,5 | Enterprise Value |
FC Livre | 100 | 103 | 105 | 108 | 110 | 905 | |
VP | 94 | 84 | 76 | 68 | 61 | 503 |
886 Corroboração do Valor Justo |
Confrontando as análises, pode-se verificar que as variações em valor do negócio para uma estrutura de negócio, igual ou muito próxima ao seu valor justo, são nulas ou irrelevantes para a mensuração do valor justo de uma empresa.
Por fim, algumas linhas de raciocínio se utilizam da estrutura média de mercado para o seguimento, que aqui a chamaremos de estrutura de mercado. Faremos um comparativo com esta estrutura, para finalizarmos as análises, como segue:
Tabela 6 – Estrutura de Capital a Mercado
Estrutura de Capital | Valor Justo | Mercado |
---|---|---|
Terceiros | 110 11% | 25% |
Próprio | 866 89% | 75% |
Total | 976 100% | 100% |
Debit/ Equity | 12,7% | 33% |
Neste exemplo, considerando o custo de capital através da estrutura de capital a mercado, o custo de capital que antes era 14,0%, foi para 13,6% e gerou o seguinte valor para o negócio:
Tabela 7 – Valor Justo da Empresa pela Estrutura de Capital a Mercado
FC1 | FC2 | FC3 | FC4 | FC5 | Perpetuidade | ||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Período | 0,5 | 1,5 | 2,5 | 3,5 | 4,5 | 4,5 | Enterprise Value |
FC Livre | 100 | 103 | 105 | 108 | 110 | 905 | |
VP | 94 | 85 | 76 | 69 | 62 | 509 |
895 Mercado |
Analisando a variação no valor do negócio gerado pela estrutura de capital a mercado x estrutura de capital a valor justo, apresentou uma variação de 1%.
Conclusões
Este estudo foi elaborado para responder ao problema “Como reduzir o risco da Estrutura de Capital Contábil no Valor da Empresa?”. Algumas hipóteses foram geradas, através de um estudo investigativo, em modelos hipotéticos, considerando uma estrutura de capital contábil, com Patrimônio Líquido invertido ou negativo. Após analisamos o valor do negócio considerando a estrutura de capital a valor justo, gerada através do cálculo do valor do negócio pela estrutura anteriormente citada. Para comprovação da análise, os cálculos foram refeitos utilizando a nova estrutura de capital e por fim, a título comparativo utilizamos a estrutura de capital média do setor. Desta forma, abaixo apresentamos os resultados e por fim conclui-se que:
Tabela 8 – Comparativo de Resultados
Estrutura de Capital | Contábil | Valor Justo | Corroboração | Mercado |
---|---|---|---|---|
Terceiros | 110 138% | 110 11% | 110 12% | 25% |
Próprio | -30 -38% | 866 89% | 776 88% | 75% |
Total | 80 100% | 976 100% | 886 100% | 100% |
Debit/ Equity | -366,67% | 12,70% | 14% | 33% |
Enterprise Value | 976 | 886 | 886 | 895 |
Variação/ Valor Justo | 10,2% | - | 0,1% | 1,0% |
Através da análise, entendemos que o cálculo da estrutura de capital a valor justo deva ser emprega, visto que, caso a empresa possua sua estrutura igual ou próxima a estrutura de capital justa para o negócio, sua variação no valor justo da empresa será nula ou irrelevante. Por conseguinte, caso optarmos por utilizar a estrutura de negócio pela média do mercado, estaremos ocultando dados relevantes para a mensuração do valor justo da empresa, transferindo a este negócio a alavancagem média do mercado, interferindo na análise de risco da empresa.
Conteúdo desenvolvido por:
Tarciano Mélo Cardoso
Economista Corecon/RS 7901
tarciano.cardoso@fgroup.com.br
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